
56º Encontro - O professor de matemática
e a tal da "insubordinação criativa"
Data: 31/05/2017
Presentes: Graça, Ana Carolina, Ester, Dora, Priscila, Marina, Paula, Gislaine, Karina e Alessandra.
No último encontro discutimos os seguintes artigos: ‘’Insubordinação Criativa: um convite a reinvenção do educador matemático ’ das autoras Beatriz Silva D’ Ambrósio e Celi Espassandin Lopes e ‘’A Insubordinação Criativa em Educação Matemática Promove a Ética e a Solidariedade’’ das autoras Celi Espassandin Lopes, Beatriz Silva D’ Ambrósio e Solange Aparecida Corrêa.
Priscila iniciou as discussões relatando que não conhecia o termo insubordinação criativa, apesar de já tê-lo como princípio. Elogiou as atividades realizadas pela Professora Solange, apresentadas no segundo artigo citado. Ressaltou que a atitude da professora Solange em levar as crianças da escola particular para conhecer a escola pública, entrevistar e tabular as brincadeiras e atividades extraclasses realizadas pelos alunos foi muito importante para conhecerem uma realidade diferente.
Graça exemplificou a participação no GEPROMAI como um ato de insubordinação criativa por que o grupo é formado por pessoas que querem discutir e a aprofundar seus conhecimentos, sem receber nenhum certificado ou remuneração para isso. Dora complementou que os participantes do grupo são motivados apenas pela própria vontade e apoio dos integrantes do grupo.
Pensando nisso a seguinte questão foi discutida: o que seria melhor, ser um grupo insubordinado ou um grupo reconhecido pela instituição?
Alessandra e Dora ressaltaram que se a instituição apoiasse o grupo nós estaríamos mais avançados em nossos objetivos e faríamos além do que a instituição apoia.
Karina ao pensar sobre o ser insubordinado questionou como é possível contagiar mais professores para também se sentirem motivados a serem profissionais insubordinados.
Seguindo a discussão Graça leu o seguinte trecho do primeiro artigo citado:
Assim, consideramos que os educadores matemáticos devem estabelecer como metas de seus trabalhos a aprendizagem por meio da reflexão sobre suas próprias experiências, ao reexaminar suas ações e tomar consciência das transformações necessárias aos seus fazeres. Para assumir e exercer essa prática reflexiva, é preciso ter percepção sobre a autonomia que o profissional da educação deve ter em suas atitudes, que poderão se constituir em uma prática subversiva responsável, pautada na criatividade e expressa no redirecionamento de suas ações educacionais. A autonomia dos educadores matemáticos pode ser viabilizada e respaldada quando eles se inserem em grupos de trabalho colaborativo. (D` AMBROSIO, LOPES, 2015, P.8)
Graça apontou que a questão do professor experiente, que desenvolve autonomia ao longo de sua carreira docente e com o tempo vai se tornando mais insubordinado não é uma regra, pois a maioria dos professores do grupo são jovens e apresentam práticas insubordinadas.
Para completar Dora leu a seguinte citação do primeiro artigo citado:
Muitas problemáticas e inquietações de professores e pesquisadores têm sua origem em confrontos de valores sociais e ideias políticas. A partir de tais enfrentamentos, os profissionais que desejem assumir a subversão responsável precisarão ‘’assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumir-se como sujeito porquê é capaz de reconhecer-se como objeto. (FREIRE apud D` AMBROSIO, LOPES, 2015, P.9)
Em seguida leu o seguinte trecho do primeiro artigo citado:
Se considerarmos que a autonomia do profissional da Educação está relacionada aos interesses da comunidade educativa na qual atua, então, há necessidade de uma contínua busca por uma aprendizagem com abertura à compreensão e à reconstrução de sua própria identidade profissional. Dessa forma, a autonomia e o trabalho colaborativo são essenciais à identidade profissional dos educadores matemáticos, pois atribuem a eles coragem para assumir atitudes de insubordinação criativas em prol daqueles que educam e do conhecimento que produzem e promovem. (D` AMBROSIO, LOPES, 2015, P.10)
Apontou que há pessoas no início de carreira que sentem mais dificuldade de serem insubordinadas por insegurança. Exemplificou o período probatório, como fator de medo para os profissionais se insubordinarem. Afirmou que para sermos insubordinados temos que ter uma sabedoria extra, ter competência de conhecimento, saber o que vai responder diante de um questionamento sobre seus atos de insubordinação.
Em sequência Graça leu o seguinte trecho do primeiro artigo citado:
Os pesquisadores Haine e Likata (1195) realizaram um estudo qualiquantitativo para analisar a frequência de insubordinação criativa na prática administrativa de 34 diretores e 5 supervisores de escolas. Evidenciou-se que os diretores com mais experiência profissional apresentavam maior frequência nas ações de insubordinação criativa, pois demonstravam mais coragem na tomada de decisões. Esses profissionais eram mais admirados pelos supervisores de ensino e considerados como altamente competentes, suas atitudes não eram vistas como subversivas, pois visavam resguardar o alto nível de aprendizagem dos alunos. (D` AMBROSIO, LOPES, 2015, P.3)
Graça apontou que as pessoas com mais anos de experiência têm seus atos de insubordinação visto com bons olhos, como atos de competência. Acredita que a autonomia pode ter relação com os atos insubordinados, pois no início de carreira o profissional ainda está experimentando algumas coisas, e é natural a insegurança.
Alessandra relatou uma experiência que viveu. Contou que durante um processo de organização de uma rede escolar os diretores mais velhos brigavam para ter mais salas com menos alunos e os mais novos aceitavam qualquer situação. Acredita que a questão do tempo fez diferença neste caso, pois os diretores se preocupavam com a qualidade de ensino e não tinham medo de expor e exigir o que consideravam ser o mais correto. Para ela, a questão da idade pode sim ter uma relação com a segurança para tomar determinadas atitudes. Em contrapartida acredita que há pessoas que podem utilizar isso para terem menos trabalho.
Gislaine comentou que as pessoas com mais tempo de atuação já conseguem ter uma rede de apoio maior e não precisam comprar determinadas brigas sozinhos. O mais novo em uma rede de ensino tende a não ser integrado e pode ter medo de tomar determinadas atitudes sozinho.
Dora complementou refletindo que a insubordinação criativa é mais simples quando é uma insubordinação coletiva. Afirmou que todos juntos somos fortes ressaltando que a coletividade não precisa ser exclusivamente na escola. O grupo nos apoia. Colocou o crescimento do grupo, que agora está mais consolidado como grupo dentro da universidade e que está se fortalecendo diante da participação de vários integrantes.
Dora propôs ao grupo escrever algo sobre insubordinação criativa e também coletiva.
Gislaine relatou uma dificuldade que encontrou em seu trabalho. Ela demorava um tempo grande para trocar as crianças da escola e era muito criticada por isso. Explicou que gostava de fazer a troca mais devagar para ensinar as crianças. Acreditava que estava investindo no processo de desenvolvimento das crianças, que ganharia tempo futuramente quando as crianças se tornassem mais autônomas e pudessem fazer algumas coisas sozinhas. Essa ação insubordinada incomodava os outros profissionais da escola, que estavam mais preocupados em realizar a troca o mais rápido possível, não pensando no desenvolvimento global da criança. Colocou que as políticas públicas consideram mais importante o burocrático do que o pedagógico e que isso prejudica o desenvolvimento da aprendizagem.
O grupo discutiu as dificuldades de ser insubordinado diante de uma equipe que não é insubordinada, levantando, novamente, a seguinte questão: é melhor ser insubordinado ou reconhecido pela instituição? Para o grupo o ideal seria a insubordinação não ser uma exceção e com isso deixar de ser insubordinação, tornando-se um conjunto de práticas instituídas e corriqueiras da vida escolar.
Ana Carolina relatou sobre as adversidades que encontra na realização de sua docência devido a condição do cargo de professor adjunto na rede municipal de Campinas. Devido a mudança de escola anualmente, muitas vezes, não consegue participar e contribuir para o projeto pedagógico da escola. Também relatou que houve algumas ocasiões em que não concordou com planejamento da escola, tomando a iniciativa de mudar o curso das propostas pedagógicas para atender a realidade da turma em que lecionava.
Dora sugeriu que os professores que dividem uma mesma postura de insubordinação criativa, devem se unir formando redes. Mencionou que muitas vezes professores que estão em uma mesma unidade escolar há muito tempo, às vezes, apresentam uma resistência em aceitar ideias de novos professores, por estarem rigidamente presos em suas concepções de ensino e aprendizagem. Dora também citou uma história que conta sobre um menino que se colocava a observar um senhor em uma linha férrea. Este mesmo senhor, sempre que o trem parava na ferrovia, martelava com seu martelo de borracha as rodas do trem. O menino ao observar esta situação por vários dias, perguntou ao senhor: “por que toda vez que o trem para o senhor martela as rodas?” E o senhor logo lhe respondeu: “mas você hein menino! Estou fazendo isso há 30 anos e você que está aqui há apenas alguns dias já quer saber.”. Dora quis dizer que muitos professores assumem uma postura muito parecida com a do senhor mencionado na história. Realizam sua docência por muitos anos, sem olhar para sua prática de uma forma crítica.
Alessandra comentou sobre uma experiência em uma escola, a qual esteve na semana anterior ao encontro. Os alunos de uma determinada turma estavam realizando uma prova e a mesma tinha doze páginas. Uma das perguntas desta avaliação tinha como tema “o lixo” e seguia, mais ou menos, da seguinte forma: “Cada pessoa produz em média 380 kg de lixo por ano. Quantos quilos de lixo você já produziu durante toda a sua vida?”. O garoto que a Alessandra observava comentou: “que pergunta é essa? Nunca guardei meu lixo! Nunca pesei meu lixo! Como eu vou saber isso agora?”. Alessandra sugeriu para que o menino pensasse na quantidade em média de lixo produzido por pessoa, segundo a situação problema da avaliação e o menino logo responde que aquilo não fazia sentido algum, porque ele poderia ter produzido uma quantidade maior ou menor que aquela e questionou a origem daquela quantidade. Então Alessandra incentivou o garoto a conversar com a professora da sala, que por sua vez, chegou na professora e disse: “Se você quer que faça essa quantidade (380 kg) vezes dez eu faço. Mas que isso não faz sentido nenhum, não faz mesmo!”. Graça comentou sobre esta situação, colocando que muitas vezes crianças com tal insubordinação criativa, não são valorizadas e muitos professores poderiam pensar que a criança não sabe interpretar uma situação problema.
Alessandra e Dora emendaram sugerindo como o tema lixo poderia ser explorado em sala de aula não somente numa perspectiva matemática, mas de uma maneira interdisciplinar e que faça sentido para o aluno e corresponda com a sua realidade.
Gislaine comentou que os professores insubordinados são, ainda, uma minoria e questionou como se faz para tornar mais professores adeptos dessa prática.
Dora comentou que pessoas atuantes na área da educação devem se colocar politicamente, desta forma exercitando sua insubordinação criativa. Em seguida, Karina comentou que hoje existe uma intolerância das pessoas em aceitar a opiniões políticas umas das outras, gerando muito preconceito, ódio e estereótipos.
Alessandra falou da influência do grupo colaborativo no trabalho dos professores que participam do mesmo, com as trocas de experiências entre os membros.
Pensando na importância de refletirmos sobre a insubordinação criativa na prática docente, Priscila encerrou a discussão lendo seguinte citação do primeiro artigo citado:
[...]os pássaros vivendo em uma gaiola alimenta-se do que encontram na gaiola, voam só no espaço da gaiola, comunicam-se numa linguagem conhecida por eles, procriam e repetem-se e só vêem e sentem o que as grades permitem. Não podem saber de que cor a gaiola é pintada por fora, No mundo acadêmico, os especialistas são pensadores engaiolados em paradigmas e metodologias rígidas que não permitem ver além do que é considerado academicamente correto. (D` AMBROSIO, apud D` AMBROSIO, LOPES, 2015, P.8)
Este relato foi conduzido pela professora Priscila.
Referências Bibliográficas:
Lopes, C.E, D’Ambrósio, B. S. & Corrêa, S. A. (2016). A Insubordinação Criativa em Educação Matemática Promove a Ética e a Solidariedade. Zetetiké, Campinas, SP,v.24, n.3, set/dez. 2016, p.287-300.
D’Ambrósio, B. S. & Lopes, C.E, (2015). Insubordinação criativa: um convite à reinvenção do educador matemático. Bolema, Rio Claro, SP, v.29, n. 51, abr. p. 1-17, abr. 2015